terça-feira, 24 de maio de 2011

Produtividade, dias de férias e feriados

Toda essa conversa sobre a correlação entre os índices de produtividade nacional e os dias de férias e os feriados dos portugueses é um bocado disparatada.

A redução dos dias de férias e do número de feriados só seria uma solução se houvesse um problema na nossa capacidade para satisfazer a procura externa, isto é, se não estivéssemos a exportar mais por falta de capacidade para satisfazer a procura que nos é dirigida ou se estivéssemos a compensar o alegado excesso de dias de férias e de feriados com horas extraordinárias massivas ou com mais trabalhadores, afectando a nossa competitividade a nível de custos (mas criando mais uns postos de trabalho...). Ora, que eu tenha conhecimento, o excesso de procura não é um problema que afecte a maioria das empresas nacionais. É pena, porque seria um doce problema, mas, infelizmente, ouve-se é falar de empresas a encerrar e a fazer layoff temporário por falta de encomendas e não de empresas desesperadas por não conseguirem satisfazer as carradas de encomendas que lhes caiem do céu aos trambolhões. Portanto, objectivamente, net net, o que é que se ganha ao aumentar o número de dias de trabalho?

Concordo, em absoluto, com os que defendem que a produtividade dos trabalhadores portugueses em ambiente industrial está entre as melhores, como é atestado por casos como o da Autoeuropa. Sobretudo, se devidamente enquadrados em termos de organização, processos e tecnologia, como é também o caso da Autoeuropa.

Por outro lado, admito que temos um problema de produtividade a nível do sector terciário. Trata-se de uma idiossincrasia cultural, que sobrevaloriza o número de horas que se passa no local de trabalho - e, em particular, a hora a que se sai - em detrimento do trabalho realizado e dos resultados alcançados. Em resultado desta cultura de taximetro, os portugueses que laboram no sector de serviços fazem inúmeros coffee breaks, longos almoços e alguns lanches, navegam na internet e discutem imenso futebol, política, economia e todo o tipo de fait divers. Pelo meio, vão trabalhando qualquer coisa. Graças a esta cultura de show-off horário, temos muito menos horas de quality time pessoal do que seria desejável e alimentamos um circulo vicioso em que a menos descanso efectivo, corresponde menor produtividade e criatividade nas muitas horas em que nos arrastamos pelo local de trabalho.

2 comentários:

  1. Com a necessidade de reduzir o número de funcionários públicos menos feriados até que dava jeito...

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  2. Isso resultaria se o dimensionamento da função pública resultasse exclusivamente de critérios de gestão tais como produtividade, mix de skills necessário ou carga de trabalho. Mas como por imperativos políticos e sociais, o número total de funcionários públicos continuará a ser excessivo (admito que em algumas áreas a dotação de pessoal até seja deficitária...), menos feriados só resultaria em mais tempo de inacção nas repartições.

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